terça-feira, 13 de outubro de 2009

E NEM na idade da pedra.

Mais desmandos do poder público com dinheiro público.

O MEC poderia observar críticas como esta para criar maior credibilidade...
O publicitário Silvio Lefèvre mantèm o site Derrapadas em Marketing que eu recomendo.

Silvio Lefèvre apresenta: A DERRAPADA DA QUINZENA (Nº 101)

Toda a imprensa focada na questão do roubo da prova do ENEM, eu não vi nenhum comentário sobre o absurdo em si da sistemática de aplicação deste exame. Será que todo mundo acha normal imprimir provas individuais em papel para 4 milhões de estudantes e mandar a pacotada toda em caminhões para 1829 cidades, nos locais mais distantes do país? Só mesmo por um milagre, neste processo e neste trajeto todo, envolvendo centenas de funcionários internos e externos, alguém não iria surrupiar alguns impressos... Será que alguém lembrou que as eleições no Brasil são totalmente informatizadas? E que 131 milhões de pessoas votam em terminais de computador, nas dezenas, centenas e milhares de urnas, nos 5560 municípios do país? Se foi possível informatizar este gigantesco processo, até mesmo para eleições complexas, como as que envolvem de uma vez só a votação para presidente, governador, senador e deputados federais e estaduais... será que seria tão difícil de informatizar o ENEM?Eu não sou técnico em informática e nem tenho a fórmula pronta, mas de imediato me ocorre uma banalidade, que é colocar todos os estudantes em frente de um computador qualquer, nos locais de prova, e dar acesso à prova online apenas no exato momento em que tocar o sino, de repente até com uma senha de acesso individual por estudante, fornecida na hora, para evitar que alguém passe cola para eles de fora da sala... Será que fazem questão da prova em papel? Se for este o caso se poderia até colocar uma boa impressora em cada local de prova e imprimir na hora as cópias, assim que o sistema central liberasse o arquivo para download, nem um segundo a mais nem a menos. Pessoalmente acho que nem isso seria preciso porque a prova digitalizada teria ainda a vantagem de ser muito mais facilmente corrigida e pontuada... Mas, enfim, essas são apenas duas idéias simples e bastante óbvias, que poderiam ser aperfeiçoadas sem problema por tantos geninhos informáticos que habitam os ministérios de Brasília e alhures. Em vez disso, insistindo na gigantesca derrapada metodológica, estão falando em imprimir de novo os mais de 4 milhões de cópias de uma nova prova e mandar... pelo correio!!! Gente, desde quando o correio tem confiabilidade para manusear material de alta confidencialidade como este? Quem utiliza intensamente os serviços postais, como eu, sabe muito bem que eles são ótimos, mas não são isentos de problemas com extravios, entregas em endereços errados, pacotes danificados, roubos de carga, greves mais ou menos longas e generalizadas... e mais uma série de ocorrências que são todas tratadas com normalidade, porque são consideradas dentro da margem de erro. Ou seja, estatisticamente, na maior parte do ano, o correio funciona bem, mas nenhuma estatística garante 100% de acerto e, neste caso crítico, basta um único problema no trajeto e... mais um ENEM terá que ser c ancelado. Por que será então que insistem tanto em imprimir milhões de provas de forma centralizada e enviar tudo para cada local do país onde elas serão aplicadas? Um passarinho me assoprou que deve ter gente ganhando dinheiro (até demais) com esta maluquice toda de impressão, distribuição, etc. A licitação aprovou uma proposta (a única!) de R$ 116 milhões! Já pensaram em como se gastaria menos (e portanto alguns ganhariam bem menos) se fosse tudo feito pela internet e não precisasse imprimir nem distribuir nada? Ah... mas e o custo dos 4 milhões de computadores para todos esses candidatos? Tudo tem solução, minha gente. Uma alternativa lógica é utilizar computadores já existentes nas centenas de faculdades que foram literalmente obrigadas a ceder seus espaços para o ENEM. Mas... e se os organizadores fizessem questão de terem computadores especiais para este exame? Neste caso não faltariam projetos de máquinas bem simples, adequadas apenas a esta função, como os terminais utilizados para as eleições. E se faria então uma bela licitação para a aquisição desses terminais, mas não com um candidato só, como esta que escolheu a empresa responsável pela prova que foi roubada... E tem um detalhe: os terminais só custariam uma vez, porque nos anos seguinte poderiam ser usados os mesmos! Querem mais uma idéia? De repente por que fazer todas as provas no mesmo dia? O exame poderia ser aplicado em várias datas, evidentemente com provas de conteúdo diferente. Se for em dois dias já seriam só 2 milhões de terminais, em vez de 4, se for em 4 dias seriam só 500 mil... Idéias não faltariam se esta questão fosse abordada de forma realmente séria, esquecendo os interesses das gráficas, das transportadoras e de todos os intermediários que porventura "facilitem" e se beneficiem com este absurdo e ridículo processo. E tem mais. Que lição de raciocínio lógico e de tecnologia querem ensinar a esses milhões de estudantes do Brasil inteiro aplicando a eles um exame QUENEM na idade da pedra?

Abraço,

Silvio Lefèvre

Esta coluna foi publicada no jornal PropMark - edição de 12/10/2009

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